quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O Inverno Do Meu Tempo



Surge a alvorada
folhas a voar
e o inverno do meu tempo começa
a brotar, a minar

(Cartola)

Envolvimento

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

diálogo com Kafka

Ainda Sou...
excesso, sentido, essência, máscara, idéia, ser, sempre. Passado, fuga, vida... Ilusão, escassa, verdade (?). Todo, complexo, conjunto, papel, número, pó.
Eu ainda não sou Nada.















Bright city.
Loud city.
And I'm sitting here,
empty.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Tarde de terça feira em casa

Tenho saudades de todas as pessoas que eu amo. Em algumas horas verei meus amigos, em apenas alguns dias verei minha amada e meus pais, meu irmão e minha sobrinha, e quem sabe verei outros amigos que há tempos não vejo, mas quanta falta me fazem!

Penso neles a todo momento, eu os amo mais que tudo.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Uso dos diários de Kafka #3 - 1921

29 de outubro

"No curso de uma das noites seguintes, terminei apesar de tudo por participar realmente do jogo, anotando os resultados alcançados por minha mãe. Desse fato não adveio nenhuma aproximação e se houve disso qualquer sinal, logo foi desfeito pelo aborrecimento, pelo cansaço, pela lamentação do tempo perdido. Teria acontecido sempre assim. Esta zona fronteira, colocada entre a solidão e a comunidade, apenas a ultrapassei muito raras vezes, estabeleci-me nela mais solidademente do que na verdadeira solidão. Como é linda e viva, comparada a isso, a ilha de Robinson!"

Uso dos diários de Kafka #2 - 1921

16 de outubro

"Domingo. A desventura de um eterno começar, a ausência de ilusões com respeito ao fato de que tudo não é senão um começar e nem mesmo um começar; a insânia dos outros que o ignoram e que, por exemplo, praticam o futebol para atingir "a alguma coisa; a minha própria insânia escondida dentro de si mesma, como em um ataúde, a insânia dos demais que acreditam ver aqui um verdadeirao ataúde, consequentemente um ataúde que é passível de ser transportado, aberto, destruído, trocado por qualquer outro.
(...)
Insânia insuficiente: por uma fresta o vento sibila e obsta uma total ressonância.

Se está em mim o desejo de ser um atleta peso-pluma, deve-se entender isso com toda verossimilhança como se eu quisesse ir ao céu para gozar o direito de ali estar tão angustiado como o estou aqui embaixo.

Por muito miserável que a minha constituição seja 'todas as coisas iguais aliás' (especialmente levando-se em consideração a minha débil vontade), supondo mesmo que seja o mais miserável do mundo, terei necessidade, entretanto, isso mesmo em minha crença, de tentar conquistar o melhor com os meios que me oferta; não é senão um mero sofisma afirmar que não se pode, com tais meios, alcançar mais de uma só coisa e que consequentemente essa única coisa seria a melhor e que essa melhor coisa seria a angústia."

17 de outubro

"O fato de nada ter aprendido de utilidade e - coisa que lhe está intimamente unida - que me tenha deixado enfraquecer fisicamente, esse fato pode ocultar uma intenção. Não desejaria ser desviado, desviado pela satisfação de viver que sente um homem sadio e útil. Como se a enfermidade e a angústia não desviassem tanto quanto isso, ao menor!

Teria a possibilidade de arredondar esse pensamento e terminá-lo de vários modos favoravelmente a mim, porém não me atrevo e não creio - ao menor hoje e durante o maior número de dias que venham - não creio em qualquer solução que me possa favorecer."

18 de outubro

"Tempo eterno da meninice. Outra vez um chamado da vida.

É totalmente concebível que a maravilha da vida esteja difundida em torno de qualquer um e isso sempre na plenitude, porém velada, na intimidade, muito distante.

Chamemo-la com a palavra adequada, pelo seu nome real, aí ela vem. Nisso reside a essência da magia que não cria, porém invoca."

Uso dos diários de Kafka #1 - 1915

24 de janeiro

"Os óbices que eu sinto quando falo, evidentemente incríveis para outros, vêem do fato de que meu pensamento ou melhor o conteúdo de minha consciência é completamente nebuloso, ainda que nele repouse sossegado e contente comigo mesmo, enquanto uma conversação humana requer minúcia, consistência e um encadear-se contínuo. Todas essas coisas que não existem de modo algum em mim. Ninguém ficará de boa vontade nas nuvens comigo e mesmo que o fizesse eu não poderia apesar disso espalhar a bruma para fora de minha cabeça, entre dois seres humanos ela dilui e não é nada."

25 de fevereiro

"Depois de vários dias de dor de cabeça constante, por fim me sinto um pouco mais livre e confiante. Se eu fosse outro, que me contempla de fora e vê o curso de minha vida, diria certamente que tudo isto deve terminar em nada, consumir-se em uma dúvida incessante que apenas posso inventar mortificações. Mas em meu caráter de parte interessada, continuo esperando."

domingo, 21 de setembro de 2008

Sou impura e imperfeita.
Translúcida e incolor.
O que é meu não tem dono
nunca teve.
Aquilo que por mim passa,
há de ter passado antes
e virá a passar depois.
Sem ter, sem ser.

Mas sei, algo fica
(esse algo sim é meu).
O resto apenas caminha...

Restos que caminham paralelamente
tão pertos
embora quase imperceptíveis,
quase inconscientes...
distantes...

Passe pureza!
Passe perfeição!
Longe.

excesso

Sou toda sentido
cabeça, pescoço, ouvido,
pé e mão.
Coração.
Bexiga, baço,
abraço.
Intestino,
íntimo,
infinito.
Glândulas e amor.

E as minhas glândulas inflamam,
assim como meu amor.

Sinto amor,
dor,
e um espaço vazio.
Oco.
Fome.
Frio.

O amargo e o doce.
Você.
Nós
e o Outro.
Aquilo que transcende,
(dente)
O que não consigo
(umbigo)...

Respira.
Expira.
Fundo.

Já não caibo mais nesse mundo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Paralelas #2



Foto por Talita.

Fala rarefeita #1

Repito como passaporte falso: conduta vibrante, a de ser traça.

Paralelas #1



Foto por Talita.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sobre Aprender A Ficar Quieto

Uma sequência de eventos até certo ponto provável, que poderia mas não foi prevista, se abre esta noite pra mim como uma educação da conduta. Parece ordem expressa da intuição, que só se mostra mediante permissão nossa, e a sabedoria talvez seja sempre saber, e cada vez mais, dar-se essas permissões à intuição, adotar daí em diante o que ela oferece humildemente, de coração. Comprovar empírico-estatisticamente sua validade.

Eis a série: coube a mim comentar a um mui amigo algo sobre minha vontade de exercer lutheria de pianos, delicadeza que respeito com toda força, diante do mistério de alguém que decide guiar sua vida a isso. O fato desse mistério se colocar hoje bem na minha frente tem pra mim a força de mostrar o quão íntimo é o assunto. Quanto ao mui amigo, somos realmente bons amigos, e deve haver algo entre amigos como uma certeza de mútua compreensão, mesmo entre almas o mais diferentes. Por isso, é claro, não foi esse o problema, e sim a terceira pessoa, presente e participante, nada próxima do meu mundinho, estávamos assim trabalhando os três. Assim, tal presença ouviu minha declaração, declarou sua grata surpresa, mas como alguém que fala sem ciência da própria presença, como muita gente, enfim.

Assim que falei, e mesmo enquanto falava, e antes de qualquer outro dizer qualquer coisa, me correu na espinha um raio frio. Por ter eu falado demais, muito demais. Demais, sim, e então denuncia-se sem volta o momento artificial, que já era doído ali, antes da minha fala. Por que não ficar em silêncio? Por que falar isso pra ele, com que intuito? Silêncio, sim, respeito e prudência. Senti dizendo-me, da boca pra dentro, que não devia ter falado nada. O assunto se foi, o trabalho terminou, mas a bronca que me dei conservava o efeito.

Mais uma pessoa desencaixada a mim, cujo mundo também desentendo (isso a gente sabe de coracão, nisso reside a possibilidade de ser tranquilo) ficou sabendo do piano, veio então noutro dia, falar comigo. Achou legal. E esse é o fim até aqui. Pra mim a confirmação datada de minha desobediência. Claro que foda-se onde vai parar a história e quem mais a escutar, não é nada disso. Consequências são uma borrifada de vida, despejada por quilômetros, de um avião velho.

O ponto no caso é não ter sabido a medida, o momento, creio eu. Devo sabê-lo? Parece que sim, inadvertidamente, sem saber, como a gente sabe que vai chover. Meu mui amigo disse outro dia mesmo algo sobre dominar o sono, que é o poder nas mãos de uma pessoa quando alguém aceita dormir diante dela. Dominar o sono de outro. É uma confiança recebida de bom grado, mãos abertas. Eis que dormi então, na frente daquele sujeito. Melhor seria, então, dormir mais em presença da minha cabeça maluca.

domingo, 3 de agosto de 2008

gaveta ao avesso

hum... isso cheira mofo, mas eu gosto.
Quem nunca teve uma gaveta virada ao avesso?
Memória, Interno, segredo.
Porém, o estático agora toma corpo e segue seu próprio fluxo.
O texto tecido agora não mais escondido
e sim em constante tranformação.

Ode a Clarice

Acho que estou perto de um coração selvagem...
Não sei como, apenas sinto. Há uma continuidade...
Não há nada que não seja isto,
e nada que não seja aquilo.
Há uma continuidade infinita
e uma interdependência de vários...
que se fundem...
Vários se tornam o mesmo.
Não há conhecimento de algo se não houver experimentação
dele, e de outros.

A distinção existe para quem a quer.

É preciso renúncia.
E o novo.
A posse de uma concepção
concreta
limita a essência.
Limita-se a um começo
e a um final.
Eu fico nela, ali,
onde coisas indicam o indizível...

"Era como um pássaro abrigado sob uma leve folha que pisca ao sol quando a folha se move; e estremece ao estalido de uma galho seco. Estava exposta; cercada pelas enormes árvores, pelas vastas nuvens de um mundo indiferente, exposta; torturada; e por que deveria sofrer? Por quê?"
Woolf, Virginia. Mrs. Dalloway.

Véspera de alguma coisa

"Alguma coisa começa para acabar: a aventura não admite prolongamentos artificiais; só de sua morte lhe vem o sentido. Sem possibilidade de voltar atrás, sou arrastado para essa morte, que talvez seja também a minha. Cada instante só aparece para trazer os que lhe seguem. Sinto-me ligado a cada um, do fundo do meu coração. Sei que ele é único, insubstitutível - e não faria, porém, um gesto para o impedir de voltar ao nada. Um último minuto que passo - em Berlim, em Londres - nos braços de certa mulher encontrada na antevéspera - minuto que amo com paixão, mulher que estou perto de amar - esse minuto vai acabar, bem sei. Daqui a nada partirei para outra terra. Não voltarei a encontrar esta mulher, nem esta noite, nunca mais. Debruço-me sobre cada segundo, tento esgotá-lo; nada se passa que não note, que não se fixe em mim para o todo sempre nem a ternura fugitiva destes lindos olhos, nem os ruídos da rua, nem a claridade dissimulada da manhãzinha; e entretanto o minuto corre, e não o retenho; gosto que passe".

Sartre, Jean Paul. A náusea.

domingo, 13 de julho de 2008

Domingo

Arrumando a casa: tamanho de fonte, cores, espaçamentos, meio sem saber o que fazer. Vou depois investigar melhor as propriedades do html e seu desembaraço energizado sob luz lenta a baixas temperaturas, talvez colocar um desenho lá no rodapé da página, uma gaveta ao avesso, bem bonita.

Claro que todo mundo sabe de coração como é uma gaveta ao avesso, então creio que não teremos maiores problemas com acusações do tipo terrorismo psicológico ou exibicionismo. Em outra época isso não entraria nem em consideração, uma vez que esses ambientes, um tanto paradoxais à primeira vista, eram na verdade a morada preferida dos dragões de rabo fuso-quadrimensional e das traças de fala rarefeita.

sábado, 12 de julho de 2008

Fadinha

A Mel está com roupa de fadinha, mas com as asas de ponta-cabeça.

Segundo Post

Este é o segundo post, mais inútil ainda que o primeiro.

O primeiro post do blog


Este é o Gaveta Ao Avesso. Ficamos na dúvida se ia ser ao avesso ou do avesso, mas na hora de decidir a dúvida durou pouco. Essa imagem é só para fins experimentais e apelativos, mas logo-logo vai virar uma camiseta digna.